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Autodeterminação dos povos indígenas: ‘queremos sim gerar renda, mas sem destruir o meio ambiente’, diz liderança Boe Bororo

Povo Boe Bororo em ritual tradicional. Foto: AraguaiaNotícias

 

 Autodeterminação de viver, seja política ou culturalmente, e como bem entender. Esse foi o pressuposto que motivou a Organização das Nações Unidas (ONU) a estabelecer, em 9 de agosto 1995, o  Dia Internacional dos Povos Indígenas. 

Mas, a data não surgiu de um dia para o outro. Foi resultado de muita mobilização de povos indígenas do mundo todo que pressionaram a ONU a elaborar um documento, que era uma espécie de declaração universal dos direitos humanos dos povos indígenas. O movimento, à época, visava criar condições para a interrupção dos ataques sofridos pelos povos indígenas em seus territórios, após mais de quinhentos anos de invasão europeia. 

Assim, o tema da autodeterminação está expresso no artigo 3° da declaração, que só foi concluída em 29 de julho de 2006, pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU: “Os povos indígenas têm direito à autodeterminação. Em virtude desse direito, determinam livremente sua condição política e buscam livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural.”

Apoio do REM MT

Desenvolvimento econômico e cultural que o Programa REM Mato Grosso busca fortalecer, por meio de diferentes ações socioambientais. Uma delas tem sido a Manifestação de Interesse, que busca construir, junto às comunidades locais, Planos de Gestão de Cadeia de Valor dos produtos da sociobiodiversidade (Castanha do Brasil, Pequi, Açaí, Borracha Natural, Cumaru, Babaçu e Sementes Florestais, entre outras não prioritárias).

E quem está participando dessa Manifestação de Interesse é o povo Boe Bororo, da Terra Indígena Merure, da aldeia Merioriéda, no município de General Carneiro, região Leste de Mato Grosso. 

Por lá, o REM MT apoia a Associação PEMA, que busca fortalecer a produção dos alimentos tradicionais de 10 famílias Boe Bororo. Objetivo é garantir a segurança alimentar e comercializar o excedente de produtos para gerar renda à comunidade local. 

Estamos implantando um projeto de plantio de frutos silvestres e nativos, onde em um viveiro, com capacidade para 50 mil mudas, produzimos muda de pequi, baru, mangaba, jatobá, babaçu, buriti, entre outros”, explica Patrícia Nonato de Arigareudo, presidenta da Associação PEMA. 

Patrícia Nonato, presidenta da Asscoiação PEMA

Ela destaca que a Manifestação de Interesse do REM MT vai ajudar a associação a estruturar seu negócio, pensando em todos os elos da cadeia de valor: da pré-produção, produção, comercialização, até chegar aos consumidores. 

“O programa REM  está nos oferecendo uma mentoria para elaborar esse plano. O pessoal que está nos ajudando é muito profissional e tenho certeza que vão nos ajudar muito a fortalecer nossa agricultura, com objetivo de produzir nosso próprio alimento, ficar menos dependente da cidade, e comercializar o excedente para gerar renda ao nosso povo”, frisou Patrícia.


Foto: Associação PEMA

Atividades intensas

O trabalho da PEMA é constante, pois, além dos produtos da sociobiodiversidade, a organização busca fomentar as roças das famílias da comunidade, a partir do cultivo da batata, da mandioca, do milho, da banana e da cana de açúcar. 

“Também temos projetos de criação de galinhas e estamos montando uma farinheira para produzir a nossa própria farinha”, acrescentou Patrícia, ao destacar que a aldeia Merioéda, dentro da TI Merure, “tem apenas três anos de fundação”.  


Foto: Associação PEMA

Autodeterminação

Patrícia também ressalta  a importância da autodeterminação dos povos indígenas. Isso significa, conforme ela, poder produzir os alimentos de acordo com as tradições dos Boe Bororo, sem ter que se submeter a lógica de agricultura convencional extensiva da sociedade ocidental. 

“Queremos produzir nossos alimentos sim. Gerar renda para as nossas famílias, mas sem destruir o meio ambiente. Nossos projetos são sustentados por quatro pilares: o sociocultural, o socioambiental, o socioeconômico  e o autosustentável. A PEMA é uma associação que  concorre a projetos de editais voltados ao meio ambiente, e essa chamada de projetos do REM vem ao encontro dos projetos que já desenvolvemos aqui na aldeia Merioriéda”, destacou. 

 

Foto: Associação PEMA

“Com os indígenas e não para eles”

Para um dos coordenadores do Subprograma Agricultura Familiar e de Povos e Comunidades (AFPCTs) do REM MT, Leonardo Vivaldini, destaca que as ações do REM MT contribuem para a autodeterminação dos povos indígenas em Mato Grosso. No caso da Manifestação de Interesse, trata-se da elaboração dos planos de gestão das cadeias de valor “com os indígenas e não para eles”.

“Nessa perspectiva, quem decide os rumos dos planos, as cadeias de valores que serão estruturadas, são eles. Nós orientamos sim, mas quem vai construir a proposta, levando em conta a realidade das famílias locais, é a associação PEMA”, enfatizou o gestor.

 

Por Marcio Camilo
edição: Mariana Vianna

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