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Projeto Casa do Pajé fortalece medicina tradicional e autonomia das comunidades indígenas 

 

O cacique Raoni Metuktire, grande liderança mundial em defesa da Amazônia, estava muito deprimido com a morte de sua companheira de uma vida toda, Bekwykà Metuktire, em junho de 2020. Ele entrou em luto profundo, por vários meses, conforme a tradição Kayapó. A tristeza do coração refletiu em sua saúde física, pois o grande líder parou de comer e ficou muito fraco.

 

Raoni acreditava que estava sofrendo a influência de espíritos ruins, que o deixavam doente e que “tentavam atrapalhar a vida dele”. Além dos tratamentos que recebia da medicina ocidental, Raoni sentia uma grande necessidade de consultar um pajé. Dizia que precisa compreender melhor as influências espirituais sobre o seu corpo físico.

 


Cacique Raoni: uma das mais importantes lideranças indígenas do Brasil, mora em Capoto Jarina, no Norte de Mato Grosso. Crédito: Mídia Ninja

 

“Depois da morte de sua companheira, Raoni entrou em luto e ficou muito fraco. E os Kayapó acreditam muito, no que seria para nós, em mal olhado, energia ruim. Então, o pajé faz uma limpeza espiritual. E de fato, depois que o pajé foi ver o Raoni ele melhorou muito. Eu fui ver o Raoni em agosto [2021] e ele estava muito fraco. Depois da visita do pajé do povo Juruna ele ficou na cidade uma semana e ficou forte, vendo fotografias, conversando com todo mundo… foi uma mudança radical na recuperação”, conta a venezuelana Sol Elizabeth Gonzalez Perez, coordenadora de projetos do Instituto Raoni. 

 

Sol contou essa história à reportagem do Programa REM Mato Grosso (do inglês REDD para Pioneiros) para exemplificar a importância dos pajés (curandeiros, líderes espirituais) nas comunidades indígenas. E, por essa razão, o Instituto Raoni e a Federação dos Povos e Organizações Indígena do Mato Grosso (Fepoimt) coordenam um projeto de saúde comunitária que deu início a construção da “Casa do Pajé” na aldeia Metuktire, na Terra Indígena Capoto Jarina, ao Norte de Mato Grosso, onde mora o grande líder Raoni.

 


Casa do Pajé aos poucos vai sendo erguida na aldeia do cacique Raoni, região Norte do Estado. Crédito: Instituto Roani

 

A Casa do Pajé foi apresentada nesta quarta-feira (15), durante o segundo dia da 6ª Reunião de Governança do Subprograma Territórios Indígenas (STI) do REM MT, que ocorre em Cuiabá-MT. Ela não ficará restrita só aos moradores de Metuktire. Servirá como referência de medicina tradicional para Capoto Jarina como um todo, que conta com 12 aldeias e uma população de 1.388 pessoas. 

 

Sol, a coordenadora do Instituto Raoni, explica que uma casa específica para os pajés é muito importante para que o tratamento de saúde seja efetivo, de acordo com os costumes dos Kayapó.

 


Coordenadora do projeto Casa do Pajé, Sol Elizabeth Gonzalez Perez, durante Reunião da 6ª Governança Indígena. Crédito: REM MT

 

“Se você vai para uma aldeia para fazer atendimento com o pajé você não pode ficar circulando no local, porque tem essa crença que você tem que ficar isolado para fazer o tratamento com o Pajé. E essa casa é para isso”, conta.

 

Eliel Rondon, do povo Juruna, coordenador da regional Kayapó Norte da Fepoimt, acrescenta que a Casa do Pajé é como se fosse um hospital para os não indígenas. “A construção será de madeira com vários quartos, como se fossem as salas dos hospitais da cultura ocidental. Cada sala tem um atendimento diferenciado para mulheres, idosos e crianças”, detalha. 

 

Importância dos pajés

 

Ele acrescenta que o pajé é uma peça muito importante dentro das comunidades indígenas. 

 

“É um líder espiritual que enxerga além daquilo que a gente pode ver. Por exemplo, chegada de doenças estranhas, às condições do tempo. Se tem um sonho que pode atrapalhar a sua vida espiritual, consulta-se o pajé para ver o que significa esse sonho. Ele é um transmissor do sobrenatural para que se entenda a vida cotidiana”, sintetiza.  

Apoiar os indígenas é manter a floresta em pé

 

A Casa do Pajé está inserida dentro dos projetos do Plano Emergencial de Enfrentamento à Covid-19 nas aldeias do Subprograma Territórios Indígenas (STI) do REM MT. 

 

Marcos Ferreira, o coordenador do STI, ressalta que o REM é um mecanismo de pagamento por serviços ambientais que visa o combate do desmatamento, a preservação das florestas, bem como a redução de gases de efeito estufa (gee) no planeta.

 


Coordenador do STI do REM MT, Marcos Ferreira, ao lado da especialista sênior do STI, Paula Vanucci. Crédito: REM MT

 

“Nesse sentido, apoiar os indígenas, em diferentes situações, é manter a floresta em pé, tendo em vista que seus territórios possuem milhares de hectares de vegetação preservada”, avalia Ferreira.  

 

Governança Indígena

 

A 6ª Reunião de Governança Indígena começou na terça-feira (14) e segue até a próxima quinta (15). O encontro serve para discutir projetos nas áreas de saúde comunitária, segurança alimentar, combate aos incêndios florestais e prevenção a Covid-19. A reunião é momento chave de discutir, avaliar e repensar esses projetos, que são financiados pelo REM MT.

 


Vista aérea da Terra Indígena de Capoto Jarina. Crédito: Todd Southgate

 

Essas ações beneficiam 43 povos indígenas localizados em sete regionais do estado articuladas pela Fepoimt: Xingu, Cerrado/Pantanal, Kayapó Norte, Médio Araguaia, Noroeste, Xavante e Vale do Guaporé. 

 

Para executar os projetos, a Fepoimt conta com o apoio das instituições aglutinadoras: ATIX [Associação Terra Indígena Xingu], TNC [The Nature Conservancy Brasil], ICV [Instituto Centro de Vida] e Instituto Raoni.

 

 

Por Marcio Camilo

 

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