Às margens do imponente Rio Araguaia, mais especificamente na região de Cocalinho (a 850 km de Cuiabá), existe a Comunidade Ribeirinhos do Araguaia, que estava disposta a trabalhar as culturas da pecuária e do extrativismo em sinergia com a conservação ambiental. Entretanto, para isso, era preciso contar com apoio de insumos, técnicas e recursos que não estavam disponíveis. Foi aí que a comunidade teve a ideia de se aliar ao Centro de Desenvolvimento Agroecológico do Cerrado (CEDAC). Apoiado pelo Programa REM Mato Grosso (do inglês, REDD para Pioneiros), o CEDAC busca fortalecer as cadeias socioprodutivas em rede no interior do estado, com o uso sustentável da terra e com a conservação do Cerrado.
Comunidade Ribeirinhos do Araguaia procura projeto apoiado pelo REM para desenvolver o agroextrativismo sustentável na região do Vale do Araguaia. Crédito: CEDAC
E nesta quarta-feira (24 de novembro), data em que se comemora o Dia do Rio, nada mais apropriado do que mencionar os Ribeirinhos do Araguaia, cujos costumes estão diretamente ligados ao rio, neste caso, ao Araguaia.
Alessandra Karla da Silva, coordenadora geral do CEDAC, detalha que essa integração de culturas se dará por meio da plantação de mudas de Baru e Jatobá, pois além de gerar mais economia aos ribeirinhos – por meio da comercialização de seus frutos – também irá garantir a manutenção das pastagens.
“O extrativismo entra como atividade complementar. Para isso, eles já fizeram uma capacitação sobre como manejar essas espécies [Baru e Jatobá] de maneira sustentável”, destaca Alessandra.
Crédito: CEDAC
João Paulo Franco dos Santos, técnico de campo do CEDAC, ressalta que o Rio Araguaia é de vital importância para a sobrevivência da comunidade e que o projeto pode ajudar na mitigação dos impactos ambientais que ocorrem na região.
“É do rio que essas famílias tiram o sustento. Além da pecuária, elas também vivem da pesca e do turismo. Então, buscar ações para preservá-lo é extremamente importante para a comunidade, bem como para o equilíbrio ambiental da região. Inclusive, as famílias ribeirinhas já notaram que o nível do rio está mais baixo, graças ao assoreamento causado pela agricultura extensiva”, defende Paulo, que é engenheiro agrônomo e trabalha diretamente com os Ribeirinhos do Araguaia.
Do plantio à venda
Para além da capacitação da comunidade em práticas sustentáveis, o projeto também prevê fases de certificação de produtos agroecológicos e a venda dos mesmos para diferentes compradores, em níveis regional, nacional e internacional.
“A Comunidade Ribeirinhos do Araguaia tem muito potencial para a produção de produtos sustentáveis, porém pouco acesso ao comércio. Por isso, o objetivo do nosso projeto também é dar vazão a esses produtos do agroextrativismo, na medida em que as famílias são capacitadas e inseridas numa grande rede de comercialização coletiva”, explica Alessandra.
Roda de conversa com a Comunidade Ribeirinhos do Araguaia para esclarecer os detalhes do projeto. Crédito: CEDAC
Ela acrescenta ainda que o objetivo final é que os Ribeirinhos do Araguaia sejam inseridos na CoopCerrado [Cooperativa Mista de Agricultores Familiares, Extrativistas, Pescadores, Vazanteiros, Assentados e Guias Turísticos do Cerrado], que há quase duas década comercializa mais de 100 produtos oriundos do Cerrado de maneira orgânica e sustententável.
Mais detalhes do projeto
Além dos Ribeirinhos do Araguaia, o projeto do CEDAC irá beneficiar mais de 150 famílias da região Nordeste de Mato Grosso, com assistência técnica para o agroextrativismo sustentável, agroecológico e orgânico. Esse projeto foi contemplado em meados de 2020 pelo edital de financiamento de projetos do Programa REM Mato Grosso, dentro do Subprograma Agricultura Familiar e de Povos e Comunidades Tradicionais (AFPCTs/REM MT).
Crédito: CEDAC
Investimentos
O Programa REM MT investe cerca de R$ 1,5 milhão no setor de agroextrativismo do CEDAC. Por conta da pandemia, que suspendeu boa parte das atividades de campo, o projeto só começou a ser implantado efetivamente a partir de janeiro deste ano. O REM MT é uma premiação financeira que o Estado recebeu dos governos da Alemanha e do Reino Unido pelos bons resultados no combate ao desmatamento florestal.
Por Marcio Camilo
Crédito capa: GCom-MT / Foto: Chico Valdiner