De uma importância imensurável para o desenvolvimento de comunidades tradicionais e agricultores familiares, a Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) de Mato Grosso enfrenta muitos desafios. Por isso, com a missão de identificar melhorias para ATER no estado, foi realizado o estudo “A abordagem territorial da assistência técnica e extensão rural: um desafio no estado de Mato Grosso”, após demanda do REM MT e contratação de consultoria pela GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit). O estudo foi apresentado no Webinário Estudo de Metodologias de ATER em Mato Grosso, exibido nesta terça-feira (17/10), pelo Youtube.
Participaram do webinário a responsável pelo estudo, a professora Ana Maria Dubeux Gervais, o professor da Universidade do México e colaborador do estudo, Narciso Barrera-Bassols, o economista rural da FASE Mato Grosso (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional), Leonel Wohlfahrt, a professora e psicóloga Ladjane Caporal, a assessora técnica da GIZ Joanna Ramos e o Coordenador do Subprograma Agricultura Familiar e de Povos e Comunidades Tradicionais do REM MT (AFPCT), Marcos Balbino.
Além de debater sobre o estudo, os participantes discutiram temas, como: a soberania e segurança alimentar, o trabalho de mulheres e jovens no campo e a biodiversidade mato-grossense.
De acordo com o coordenador do Subprograma AFPCT, Marcos Balbino, a ATER é um conjunto de serviços de apoio aos agricultores familiares e populações tradicionais para aprimorar seus processos produtivos valorizando a cultura e protegendo o meio ambiente. Mas a ATER tem grandes desafios para adequar esse apoio ao público devido às questões de logística, acessibilidade e adequação.
“A ATER sempre foi um desafio pra gente. Por isso, para identificar quais são os avanços necessários que a ATER deve ter para se desenvolver e progredir, o subprograma procurou consultores para apoiar o estudo. Isto porque ter uma ATER de qualidade é fundamental para o desenvolvimento das famílias da agricultura familiar, dos povos e comunidades tradicionais do estado. Sem falar que por Mato Grosso ser gigantesco em extensão territorial, temos encontrado desafios culturais, de logística e de atividades produtivas”, explica Marcos.
O ESTUDO
O estudo “Relatório preliminar: Análise de informações de entrevistas e proposições para a ATER de Mato Grosso” foi realizado por vários consultores, como a psicóloga Ladjane Ramos Caporal, a professora Ana Maria Dubeux Gervais, o professor Jorge Luiz Schirmer de Mattos e a engenheira Marli Gondim de Araújo.
De acordo com o estudo, Mato Grosso abriga uma ampla diversidade de comunidades agrícolas familiares e tradicionais, incluindo quilombolas, indígenas e ribeirinhos. Estas comunidades desempenham um papel importante na manutenção da cultura e tradição, além de serem guardiãs de técnicas agrícolas que muitas vezes estão em sintonia com a conservação do meio ambiente. Além da geração de renda, a agricultura familiar colabora para a segurança alimentar das comunidades envolvidas.
Apesar do papel crucial que desempenham, essas comunidades enfrentam obstáculos consideráveis. O acesso limitado a crédito, tecnologia e técnicas agrícolas inovadoras e adaptadas, aliados à vulnerabilidade, às mudanças climáticas e à expansão da agricultura comercial são desafios constantes.
A professora Ana Maria Dubeux apresenta os povos tradicionais de Mato Grosso, do Livro Diagnóstico de PCTs em MT de 2019, com apoio da GIZ
Nesse contexto, a professora e fundadora da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da UFRPE, Ana Maria Dubeux Gervais, cita que a metodologia da ATER deveria olhar com atenção para o modo de vida e as particularidades das comunidades tradicionais – que são muitas no estado.
“Temos que refletir a partir dos modos de vida das comunidades tradicionais, ancorado na abordagem territorial. Temos que pensar a ATER numa ótica de construção e manutenção das identidades territoriais, e pensar no protagonismo de mulheres e jovens, formação de coletivos e apoio a povos e comunidades, garantindo a construção de sistemas agro sustentáveis”, argumenta a especialista.
Para assistir ao webinário na íntegra, clique aqui.
O acesso à terra soma aos problemas que comunidades tradicionais enfrentam
O professor da Universidade do México e colaborador do estudo, Narciso Barrera-Bassols, argumentou que é necessário empoderar as comunidades por meio do fortalecimento das organizações sociais, mediante o fortalecimento de suas próprias culturas e formas de pensar e defender a natureza.
“Nesse documento que vocês propõem a articulação entre a política agraria e politica ambiental, eu resumiria em política cultural, não é mais possível seguir pensando no produtivismo considerando essa crise que sofre em Mato Grosso e a gente que vive em Mato Grosso. Então para diminuir a dependência, o que devemos fazer é capacitar formadores, desde a base que vive nos territórios, como fazem as ONGs”, considera.
Por sua vez, o economista Leonel Wohlfahrt pondera que para ter uma ATER dialogada e participativa, é necessário ter uma postura de ouvir mais do que propor.
“Temos duas orelhas e uma boca e tem significado isso, é um dito popular que pra nós é muito caro, a gente tem que ouvir mais do que falar na relação com as comunidades. Tem que ser muito criativo e problematizar sempre, porque a partir daí surgem demandas e vão sendo construídas perspectivas, um olhar sempre horizontal sabendo que a ambiência tem uma sociobiodiversidade presente, que ali estão todas as respostas: o saber das pessoas e a diversidade biológica que tem nesses territórios”, pontua.