O Programa REM Mato Grosso levou a equipe de Avaliação de Meio Termo e representantes da Embaixada Britânica no Brasil para conhecer o trabalho que está sendo desenvolvido em duas comunidades na Terra Indígena Portal do Encantado, do povo chiquitano, no município de Porto do Esperidião (326 km de Cuiabá), próximo à fronteira com a Bolívia. Por lá, as famílias contam com projetos de segurança alimentar e geração de renda, que recebem recursos do Programa.
Mulheres criadoras de frango
Na aldeia Acorizal, por exemplo, há o projeto de criação de frango denominado de “Cerrado-Pantanal Saudável e Sustentável”, com objetivo de promover a segurança alimentar e geração de renda da comunidade. O projeto é comandado por cinco mulheres da aldeia, sendo financiado pelo REM MT, por meio de seu Subprograma Território Indígenas (STI).
“Pretendemos ampliar esse projeto para se tornar uma fonte de renda sustentável para os jovens da comunidade, para que eles não precisem sair das aldeias”. A afirmação é de Alexandra Mendes Leite, secretária da Associação Niorschaokina e coordenadora geral da iniciativa.
O STI/REM MT disponibilizou os recursos para a compra de insumos, como a ração e materiais para a construção de um barracão, que hoje abriga 700 pintinhos.
Alexandra explica que, parte dos pintinhos, depois de virarem frangos, vão para consumo das famílias chiquitanas; e outra parte será comercializada nos mercados da região, inclusive em cidades da Bolívia, que faz fronteira com Porto Esperidião.
“Antes de iniciar o projeto, eu fiz um mapeamento para identificar se havia mercado para comprar nossos frangos. Já temos encomendas e eles estão ligando direto para saber se já podem vir buscar o produto”, destaca a liderança.
Distribuição da renda
Os valores da venda, conforme Alexandra, serão distribuídos da seguinte forma: a porcentagem maior vai para as cinco mulheres (contando com ela), que estão à frente do projeto. A segunda maior porcentagem vai para a associação Niorschaokina. Já o restante, será distribuído entre a comunidade.
“Consideramos esse apoio do REM MT muito importante mesmo. Pois, além da segurança alimentar e geração de renda, esse projeto promoveu a união entre as mulheres da aldeia. Para apresentarmos a proposta ao Programa, foi um processo coletivo. Nos reunimos e pensamos numa atividade que agradaria a todas. E a criação de frango foi escolhida”, conta a Alexandra.
Trabalho em equipe
Ela explica que o grupo de mulheres se divide em cuidar do barracão de pintinhos e limpar a área do entorno. Além disso, as mulheres cuidam de uma roça e da produção de mel e de peixe. “Esse projeto nos ensinou a trabalhar em grupo. De manhã, duas mulheres cuidam do barracão. E à tarde ocorre o revezamento e as outras duas assumem o posto. Eu gosto de capinar a roça”, relata Alexandra.
Banana Crioula
Na Terra Indígena Portal do Encantado também há comunidades que focam na produção de bananas crioula, que são espécies únicas, cujas mudas foram cultivadas pelo povo chiquitano ao longo de séculos. Na aldeia Aroeira Florida, por exemplo, o cacique Vitor Gomes da Rocha e a sua esposa Sebastiana Mendes da Rocha, tiveram um projeto contemplado pelo STI/REM MT, que possibilitou o plantio de mais de 7 mil pés de banana crioula, com objetivo de também promover a segurança alimentar e a geração de renda da comunidade.
Hoje, os pés crescem sadios. Mas, no ano passado, o projeto quase não saiu do papel. Ocorre que a comunidade foi abalada por uma tragédia, por conta da morte dos dois filhos do cacique num acidente de trânsito.
“Houve uma comoção na aldeia. No velório dele apareceu muita gente. Amigos que nem conhecíamos, inclusive, que vieram de outras comunidades, das fazendas vizinhas e até de trabalhadores de fazendas na Bolívia. Foi um momento muito doloroso”, recorda Vitor.
Solidariedade
Os dois filhos do cacique eram os principais ajudantes no plantio, e por um bom tempo, a área ficou aberta sem receber as mudas de banana. Era preciso buscar força de algum lugar. E a motivação veio por meio do espírito de solidariedade do povo chiquitano.
“Nossos vizinhos decidiram nos ajudar. Nisso, muitos jovens nos ajudaram a capinar o terreno que é grande e a plantar as mudas. Foi um esforço muito grande que a gente não conseguiria se não fosse pelo coletivo. Hoje, olhando para plantação, nós estamos muito contentes com o resultado”, disse o cacique, ao acrescentar que a primeira colheita ocorre no início do ano que vem.
Barreira contra o desmatamento
O funcionamento do Subprograma Territórios Indígenas recebeu elogios de Daniel Bergamo, representante da embaixada do Reino Unido no Brasil.
“O Subprograma é muito interessante! Aconteceu da pandemia atrapalhar um pouco os planos, mas teve uma ação muito rápida para focar os objetivos do Programa num plano emergencial, para minimizar os efeitos da Covid-19, ao priorizar a segurança alimentar das populações”, avalia Bergamo, que ocupa o cargo de gerente do Fundo Internacional do Clima da Embaixada.
Para ele, apoiar projetos de fortalecimento da agricultura dos povos indígenas é estratégico do ponto de vista da preservação ambiental. “Territórios indígenas são, notavelmente, uma barreira contra o desmatamento. Eles têm uma relação diferente com o uso da terra e portanto devem ser valorizados pela manutenção da floresta em pé”, afirma.
A visita também contou com a presença de Felipe Condé, Rogério e Ana Cabral, os três da equipe de Avaliação de Meio Termo do REM MT, e Louise Hill, gerente do Fundo Internacional do Clima da Embaixada Britânica no Brasil. O Reino Unido é um dos doadores de recursos do REM MT, juntamente com o governo Alemão.
Por Marcio Camilo – REM MT/Sema-MT
Direto de Porto Esperidião