“Agora, a gente sabe que vai ter alguém com um olhar de cuidado para produzir os conteúdos que sejam necessários pras pessoas compreenderem as políticas de defesa dos povos tradicionais, as leis de amparo, as cartilhas, todo esse conteúdo que está sendo feito com o coletivo, com ajuda de várias lideranças”, comemorou a Sacerdotisa do Culto aos Orixás, Mãe Joyce, que pertence uma comunidade tradicional de matriz africana, durante a Oficina de Construção do Plano de Comunicação dos 13 povos e comunidades tradicionais mato-grossenses, realizada nos dias 18 e 19 de abril, em Cuiabá.
Joyce faz parte do Culto Tradicional de Ifá e Jeje (Foto: REM MT)
Realizada pelo Comitê Estadual de Povos e Comunidades Tradicionais (CEPCT-MT), com apoio do Programa REM MT, SEMA-MT, Sapopema Consultoria e GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit), a oficina reuniu membros da imprensa especializada e representantes de comunidades tradicionais de Mato Grosso, com o objetivo de fortalecer o diálogo dos PCTs com a imprensa e a sociedade.
Segundo um mapeamento do Ministério Público Federal (MPF), existem 238 comunidades formadas por 13 segmentos de povos tradicionais em Mato Grosso atualmente. Entre eles, estão os povos indígenas, os quilombolas, as comunidades tradicionais de matriz africana ou de terreiro, os extrativistas, os ribeirinhos, os pantaneiros e outros.
POLÍTICAS PÚBLICAS
A analista ambiental e presidente do CEPCT-MT, Vania Montalvão Guedes, relatou que o comitê é importante para as comunidades reivindicarem os seus direitos, propor políticas públicas e serem ouvidas pelos governantes e sociedade em geral. Ela ainda pontuou sobre a necessidade da construção do plano de comunicação dos 13 povos e comunidades tradicionais mato-grossenses.
Analista ambiental e presidente do CEPCT-MT, Vania Montalvão Guedes (Foto: Arquivo pessoal)
“Tratar de construção de políticas públicas para Povos e comunidades Tradicionais sem a participação dos protagonistas não é processo construtivo, e quando tratamos de Povos e Comunidades Tradicionais, falamos de grupos culturalmente diferenciados, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica e o Plano de Comunicação do CEPCT imprescindivelmente tem que ser construído de forma participativa, colaborativa, cooperativa para que seja apropriado e empoderado para e pelos PCT’S”, comenta.
PRECONCEITO
Durante sua fala, a presidente da Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Mato Grosso (FEPOIMT), Eliane Xunakalo, expôs as dificuldades que os PCTs sofrem, como os preconceitos. Mostrando como o plano se faz necessário para quebrar estereótipos e trazer informações.
Eliane Xunakalo representou os indígenas na oficina (Foto: REM MT)
“Temos uma dívida enorme de toda a sociedade com a gente, aqui somos 13 segmentos, e nós, povos indígenas e povos tradicionais enfrentamos os mesmos preconceitos e discriminações. Todas as vezes que tocamos nesse assunto, a gente também é marginalizado por estar querendo simplesmente que as pessoas usem termos corretos, não pejorativos”, aponta.
DIÁLOGO
Dentre as atividades realizadas, os participantes criaram uma mandala, que ilustra o “tecido social” das comunidades, apontando como se sentem representados. Em seguida, também preencheram uma árvore com elementos da identidade dos povos e comunidades.
Participantes fizeram uma mandala representando suas comunidades (Foto: REM MT)
O coordenador do subprograma de Agricultura Familiar e de Povos e Comunidades Tradicionais do Programa REM MT, Marcos Balbino, reforça a importância do diálogo e do conhecimento.
Coordenador do subprograma de Agricultura Familiar e de Povos e Comunidades Tradicionais do Programa REM MT, Marcos Balbino (Foto: REM MT)
“É muito difícil você ter uma comunicação para vários segmentos tão distintos, que têm interesses e territórios diferentes. E é mais difícil ainda o restante da sociedade enxergar esses povos. Então, o plano de comunicação tem tanto um viés para eles serem reconhecidos, quanto para serem valorizados pela sociedade em geral. E internamente, é bom para eles divulgarem o que estão fazendo, o que está acontecendo, como eles conseguem se juntar e construir ainda mais coisas através do comitê”, disse.
Oficina ocorreu no Hotel Paiaguás e contou com 12 representantes de comunidades tradicionais (Foto: REM MT)
APOIO DO REM MT
Por meio do subprograma de Agricultura Familiar e de Povos e Comunidades Tradicionais, o Programa REM MT apoia os agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais por meio do fortalecimento das cadeias de valor que valorizam a floresta em pé e do incentivo a práticas agroecológicas e de baixa emissão de carbono, buscando transformação socioprodutiva e aumento da geração de renda com foco na sustentabilidade. Dentre as cadeias beneficiadas, estão: as da Copaíba, Babaçu, Pequi, Castanha do Brasil, extrativismo de sementes florestais, fruticultura, palmito e apicultura, além da pecuária leiteira.